LiteraPop#3: O clube do filme, de David Gilmour

David Gilmour (não o guitarrista do Pink Floyd), crítico de cinema ocasional, jornalista e ex-apresentador de um programa sobre cinema estava desempregado, quando testemunhou mais de perto o drama de seu filho Jesse. O rapaz tinha 15 anos e experimentava um período dramático em sua vida escolar, chegando ao ponto de odiar ir à escola de maneira categórica. Sem saber o que fazer, David tomou uma decisão perigosa e, para muitos, irresponsável: permitiu que Jesse abandonasse os estudos, com duas condições: nada de drogas e os dois teriam que assistir três filmes por semana, à escolha do pai, e conversar a respeito deles. Essa seria a única educação que Jesse receberia. E O clube do filme (Ed. Intrínseca, 240 págs., R$24,90 - eu comprei em uma promoção por R$10,00!) é o relato de como se deu todo esse processo, que acabou gerando entre pai e filho uma relação mais próxima do que normalmente acontece. Eles se tornaram amigos, na verdade.
Falando como leitor, tenho que dizer que O clube do filme é um pouco fraco, no que diz respeito à descrição da relação dos dois protagonistas. Não é possível dizer que David Gilmour não foi sincero. Sinceridade há aos montes em cada página lida. Contudo, o que se percebe na leitura é uma vontade do autor de encerrar logo sua história. Isso ou  a brevidade do livro é um atestado de que há um certo exagero no fato de que tal história era, afinal de contas, "digna de um livro".
David e seu filho, Jesse
O que se lê é uma sequência sem fim de dramas juvenis sendo maximizados por um pai inseguro e, por vezes, medroso. O garoto tem uma namorada por quem é obcecado, eles terminam, voltam, terminam, voltam, enquanto isso o pai simplesmente faz tempestades e mais tempestades em copos d'água. Depois, Jesse começa um novo namoro e o drama gira em torno do fato de sua nova namorada ter sido par romântico de um amigo seu. Se isso não é um relato para lá de piegas, então não sei o que é.
A boa parte de O clube do filme está nas conversas que Gilmour tem com seu filho sobre os filmes aos quais assistem. Começando com Os Incompreendidos, de François Truffaut, e passando por dezenas de outros clássicos, entre eles A Última Missão, O Último Tango em Paris, O Iluminado e até filmes ruins, como Plano 9 do Espaço Sideral e Showgirls (para Gilmour, o pior filme de todos os tempos), o autor desfila suas excelentes análises sobre cenas marcantes, personagens importantes, atores e atrizes inesquecíveis e diálogos espetaculares (quase sempre), para lembrar ao leitor a importância que o cinema tem em uma educação cultural (e psíquica) completa.
O clube do filme não pretende um manual de educação para pais inseguros. É apenas um relato sincero de como um pai se relacionou com seu filho tendo o cinema como elo de ligação entre os dois. Se entre um filme e outro as histórias que Gilmour tem para contar não são excepcionais, sempre há o cinema para nos dar ótimas histórias e reflexões, e isso é esperançoso.

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