Gonzaga - De Pai Pra Filho

Eu não sou nordestino, embora more no nordeste há 16 anos. Nunca morei no sertão. Mas poucos filmes trouxeram o sentimento de saudades como Gonzaga - De Pai Pra Filho (Brasil, 2012) o fez. Talvez seja assim porque a trajetória do Rei do Baião não é propriedade apenas dos que nasceram no nordeste; ela pertence a todos os brasileiros. Entretanto, mesmo nas cenas localizadas no árido sertão de Exu, em Pernambuco, onde Luiz Gonzaga nasceu, a sensação que dá é que tudo aquilo é nosso, como se fosse alguma lembrança de uma vida que não é nossa, mas que ao mesmo tempo é.
Com a cinebiografia de Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha, o diretor Breno Silveira (2 Filhos de Francisco, Era Uma Vez) mais uma vez conta uma história marcante, com a diferença de que, desta vez, não há nenhuma resistência. A escolha de contar duas histórias paralelas, entretanto, mostra-se um tanto equivocada, já que a parte de Gonzaguinha, autor de "O que é, o que é" e "Sangrando", é apressada e não cria empatia com o público. Isso só acontece quando vemos o choque de gerações entre pai e filho, que viveram por muitos anos um relacionamento distante, cheio de rancor e sentimentos de separação. A cena da reconciliação é muito emocionante. Chama a atenção por ser o clímax de atuações competentes de um elenco quase inteiramente composto por desconhecidos.
Sente-se falta, contudo, da música. Não se assuste, ela está lá; a trilha sonora é ótima. Mas pelo menos o momento da criação de "Asa Branca", hino do nordestino, poderia ser mais explorado. O filme nem mesmo mostra que a música foi composta a quatro mãos, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira. Mas ainda assim fica claro que a canção mais conhecida de Gonzaga é uma espécie de retorno do compositor às suas raízes sertanejas.
A força do filme está no Gonzaga pai. Algo totalmente compreensível, pois os "causos" mais engraçados, dramáticos e impactantes pertencem a ele. Desde sua fuga de Exu, passando por sua vida no exército - e suas artimanhas para escapar da luta armada - até o começo de sua carreira no Rio de Janeiro, depois de amargar muitos fracassos e retornar às suas origens nordestinas, o filme é muito bem-sucedido.
Bons filmes são feitos assim: capazes de fazer rir e logo depois chorar. Habilidosos em entreter e fazer a gente sentir saudade de uma vida que a gente não viveu.

Gonzaga: De Pai pra Filho (2012) on IMDb

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