A Caça - drama dinarmaquês não deixa ninguém indiferente

Lucas (Mads Mikkelsen, da nova série Hannibal e o vilão de 007 - Cassino Royale) é um homem divorciado, boa-pinta e gente boa, apaixonado por caça - que parece ser parte da cultura dinarmaquesa - que trabalha em um jardim de infância como professor e faz-tudo, cuidando das crianças, levando os menorezinhos ao banheiro (até limpando o bumbum de alguns deles) e possuindo a completa admiração dos pequenos, bem como de seus colegas de trabalho e dos companheiros de caçadas. Sua vida começa a seguir rumos positivos, com o aparecimento de um novo amor e a boa notícia de que seu filho Marcus (Lasse Fogelstron) virá morar com ele antes do natal.
Tudo vai bem, até o momento em que Klara (Annika Wedderkopp, em uma atuação espetacular, com fragilidade e sensibilidade), filha de seu melhor amigo e sua aluna no jardim de infância, com quem tem uma aproximação maior, o acusa de ter lhe mostrado suas partes íntimas, contando a "inocente" mentira para Grethe (Susse Wold), a diretora da escola.
A partir daí, a vida de Lucas nunca mais será a mesma. A notícia se espalha e, de repente, toda a pequena cidade fica sabendo da acusação, o que acaba isolando-o do resto do mundo. Tudo está perdido.
A Caça (Jagten, Dinamarca, 2012) é um drama que não mede esforços em levar o espectador junto com Lucas em sua jornada ladeira abaixo, de uma forma frenética e ao mesmo tempo fria, quase gelada. Trata-se de uma reflexão séria sobre a maneira como vemos nossas crianças, que conforme a opinião de muitos pais, jamais seriam capazes de contar mentiras. O diretor Thomas Vinterberg (de Festa de Família, filme fundamental do movimento Dogma 95 e Dogma do Amor) não se submete a soluções simples, reviravoltas mirabolantes e outros truques de roteiro, comuns em Hollywood, por exemplo, e se mantém firme ao retratar também a frieza com que a humanidade está sempre em busca de bodes expiatórios, e como isso pode destruir muitas vidas. 
Como professor que sou há 15 anos, a experiência de ver A Caça acabou se tornando algo pessoal e particular. Isso porque acabei me colocando no lugar do protagonista, imaginando como seria se eu estivesse na mesma situação, enfrentando o mundo todo na tentativa de provar minha inocência. Tarefa difícil, pois seria a minha palavra - um adulto, cheio de pecados e falhas - contra a de uma criança, supostamente incapaz de mentir sobre algo tão sério.
A Caça questiona também a respeito dos métodos consagrados usados por psicólogos e educadores para descobrir "verdades" da vida de uma criança. Estamos falando de um filme urgente, sério e que não permite que ninguém permaneça indiferente a ele. Como o título mostra, fazendo uma alusão à cultura de caça existente naquela região da Dinamarca, é tênue a linha que separa caçadores de presas. Tênue, eu diria, e praticamente invisível.

A Caça (2012) on IMDb

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