Clássicos Modernos #2: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

Filme favorito para muitas muitos cinéfilas cinéfilos românticos, a obra de Jean-Pierre Jeunet tem lugar reservado no Olimpo dos filmes inesquecíveis. A gente sabe disso logo nos primeiros - e incomuns - minutos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que descrevem o dia comum em que a protagonista foi concebida, em meio a acontecimentos triviais que ocorrem a todo momento. O valor dado às pequenas coisas, aliás, é a marca da cinematografia de Jeunet, que tem entre seus filme marcantes Delicatessen (1991) e Eterno Amor (2004), este último também com Audrey Tatou no papel principal. Ele também dirigiu Alien - A Ressurreição (1997) em sua única incursão em Hollywood, mas isso nós gostaríamos de esquecer.
Voltemos a Amélie. Poucos percebem, mas aqui se tem quase um filme de super-herói, apesar de Amélie ser uma heroína das emoções, uma vingadora em prol dos rejeitados, excluídos e traumatizados. Isso porque a personagem, vivida com uma candura tocante por Audrey Tatou, tem o costume de fazer todos à sua volta felizes. E tudo começa com um singelo gesto de fazer com que um homem que, quando criança, morou no mesmo apartamento de Amélie, relembre os melhores momentos de sua infância. A partir daí, Amélie sente o prazer de ver alguém ficar incrivelmente feliz e decide fazer da felicidade sua missão na vida.
O único problema nisso tudo é que todos (ou quase todos) acabam ficando felizes, menos ela mesma. A heroína vive sozinha com seu gato, e não consegue investir em um relacionamento para si própria.
Ir ao cinema nunca mais será a mesma coisa depois de Amélie
Os filmes de Jeunet prezam pela riqueza dos personagens, e pelos roteiro multifacetados, que contam várias histórias ao mesmo tempo, enquanto centraliza todas elas ao redor da trama principal. Assim, O Fabuloso Destino tem o velho "homem de vidro", o vizinho de Amélie com uma doença rara que reproduz o mesmo quadro de Renoir todos os anos; o jovem ajudante de um quitandeiro, maltratado pelo patrão, mas que tem uma sensibilidade à flor da pele; o patrão do rapaz, que recebe uma sutil - mas bem sucedida - lição da heroína; um misterioso homem que tira fotos em máquinas espalhadas pelas estações de trem de Paris; um anão de jardim, propriedade do pai de Amélie, que resolve viajar o mundo todo (só vendo o filme para entender); a vendedora de cigarros, hipocondríaca e carente. E não para por aí. Há tantos personagens e subtramas interessantes que é impossível desgrudar os olhos da tela. Amélie, com seus olhos esbugalhados em closes constantes, não permite.
Apesar de tanta riqueza de detalhes e de ser tão cativante, o filme ainda peca em uma cena que parece vir de uma comédia dos Irmãos Wayans (você sabe, As Branquelas e afins), que não preza pela verossimilhança: só em um mundo de fantasia alguém vai ter relações sexuais no banheiro de um estabelecimento público sem que isso desperte nada além de olhares espantados e cumplicidade dos clientes. Mas não há problema, afinal o filme se passa na "liberal" Paris! Outro problema do filme é se render ao velho clichê hollywoodiano, segundo o qual o casal sempre transa no primeiro encontro.
Mas estes poréns não maculam a rica experiência de assistir a O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Afinal de contas, é sempre bom ter um filme para nos lembrar de como é bom enfiar a mão em um saco cheio de grãos, ou olhar para trás no cinema e ver as reações das pessoas.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) on IMDb

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