Disparos - Thriller nacional reflete sobre a violência com originalidade

Um desses filmes pequenos em termos de orçamento, sem nenhuma Globo Filmes para distribuir e promover, mas com um ótimo roteiro e uma dupla de protagonistas afiada, Disparos (Brasil, 2012) merece ser descoberto e conhecido.
A reflexão sobre a violência e como cidadãos comuns lidam com ela é pintada com tintas fortes e emoldurada com uma tensão capaz de encher uma sala. Dirigido e escrito pela estreante Juliana Reis, Disparos conta a história de Henrique (Gustavo Macedo, que esteve na série da HBO fdp), um fotógrafo "importante", nas palavras do próprio, que sai de uma boate gay depois de uma sessão de fotos e, ao lado de seu assistente e já dentro do carro, é assaltado por dois bandidos em cima de uma moto, que roubam todo o seu equipamento. O assalto é interrompido bruscamente quando a dupla de criminosos é atropelada por uma caminhonete aparentemente desgovernada, que mata um dos assaltantes. Ainda chocado pelo que acabou de lhe acontecer, Henrique vai até o corpo do assaltante morto recuperar seu cartão de memória com todas as suas fotos e recebe voz de prisão, supostamente por ter omitido socorro à vítima de atropelamento. Chegando na delegacia, encontra o inspetor de polícia Freire (Caco Ciocler), com quem terá um embate fascinante que durará a noite inteira, na tentativa de provar sua inocência e sua condição de vítima.
Esse duelo reconta a história do assalto, ao mesmo tempo que revela o envolvimento de outros personagens na trama, como o assistente de Henrique, a pessoa responsável pelo atropelamento e um outro amigo do fotógrafo, gay, que volta à boate pouco antes do assalto. Duas dessas subtramas não acrescentam nada à história, e sua exclusão da versão final poderia deixar o filme um pouco mais enxuto, concentrando sua visão no que realmente interessa: as atuações espetaculares de Gustavo Macedo e Caco Ciocler, que mostram grande talento e capacidade de expressar toda a emoção (ou a ausência dela) que seus papéis exigem.
O roteiro também facilita muito as coisas, pois com exceção das subtramas desnecessárias ao andamento da história, reflete com muita sutileza sobre as consequências da violência na vida de cidadãos comuns, alheios a grande parte do que acontece à volta deles e à mercê de criminosos a todo instante. O diálogo final, entre um médico plantonista e Henrique, é emblemático ao questionar até que ponto as pessoas comuns devem se envolver na defesa das vítimas da violência.
Um detalhe deixa o filme ainda mais interessante: ele é baseado em histórias reais, acontecidas no Rio de Janeiro, o que mostra que, de fato, as explosões de fúria e ódio resultantes da violência não estão assim tão longe de nossa realidade.

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