Mato Sem Cachorro | Filme nacional diverte sem ser babaca

Parece que as comédias brasileiras vieram para ficar. A maioria dos filmes nacionais que chegam ao grande circuito de cinemas é de comédias. Com certeza, no final do ano, quando fizerem um levantamento dos filmes de maior bilheteria no Brasil, todos os filmes nacionais que entrarem na lista serão comédias. Isso pode ser um problema, já que a quantidade pode acabar diminuindo a qualidade. Pode, não. Já diminuiu. É só ver aqueles filmes que mais parecem recortes de esquetes sem graça do nível "Zorra Total", que só faltam terminarem com algum bordão semelhante ao horrendo programa global. E Aí, Comeu? e Minha Mãe é Uma Peça são exemplos de como NÃO fazer uma comédia, tamanha a ausência de graça ali contida. Cine Holliúdy e Mato Sem Cachorro, este último tendo estreado na última sexta-feira em todo o país, são boas amostras de que é possível fazer comédias realmente engraçadas, que não se esquecem de criar personagens marcantes e contar uma (boa) história.
Filme de estreia do diretor Pedro Amorim, Mato Sem Cachorro conta a história de Deco (Bruno Gagliasso), um nerd que passa os dias criando vídeos de mashups, aqueles que misturam músicas famosas e conseguem um efeito divertido. Completamente desorganizado, sua vida começa a mudar quando ele quase atropela um cachorro e, em meio à confusão criada pelo incidente, acaba conhecendo Zoé (Leandra Leal). Os dois se apaixonam e adotam o cachorro, Guto, que sofre de uma condição rara: a narcolepsia canina, uma doença que faz com que o cãozinho desmaie sempre que se sente muito excitado.
Dois anos depois, Deco foi abandonado por Zoé, que levou junto Guto e agora namora o dono de uma pet shop "zen". Ele agora vive de favor na casa de Leléo (Danilo Gentili, roubando a cena), seu primo paulista que é uma espécie de conselheiro nada ortodoxo para o rapaz. Decidido a amadurecer, Deco decide sequestrar Guto e assumir o controle de sua própria vida. É claro que todo mundo sabe que os protagonistas vão ficar juntos no fim de tudo, como toa boa comédia romântica.
O que diferencia Mato Sem Cachorro das outras comédias nacionais é o tom pop impresso em cada fotograma. Há referências da cultura pop vindas numa profusão alucinada, tanto que às vezes fica difícil de acompanhar. Pedro Amorim, um cineasta apaixonado por rock, desenhos animados e música popular, coloca todas as suas paixões no filme, que faz piada com os mais diversos elementos, como o desenho Caverna do Dragão, Sidney Magal e Cláudia Ohana, e cria uma trilha sonora inusitada, que mistura O meu sangue ferve por você com I love rock and roll, chegando a juntar Imagine com Ai, se eu te pego... e fazendo a coisa funcionar!
Outra coisa a se notar (e como!) no filme é a presença do cachorro Guto, que foi interpretado por sete cães diferentes, todos adestrados pelo especialista americano Boone Narr, que já trabalhou com os animais dos filmes Sempre ao Seu Lado e Piratas do Caribe. O carisma de Guto é fator fundamental para o sucesso de Mato Sem Cachorro. Nenhuma novidade aí, porque qualquer produtor de cinema sabe que todo mundo se derrete quando há cachorros em cena. Mas aqui, mesmo quando a piada do cachorro desmaiando já começa a cansar, os outros personagens suprem a lacuna, graças a um roteiro esperto e ágil, que mantém a atenção do espectador em toda a projeção. Algumas piadas parecem fazer o cinema vir abaixo, tamanha a forma como funcionam bem.
Mato Sem Cachorro é assim: divertido, versátil e envolvente. Ótima forma de estrear na direção de um filme.

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