A Menina que Roubava Livros | Graça e dor em equilíbrio

Não li o romance de Markus Zusak, best-seller internacional que serviu de base para A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, EUA/Alemanha, 2013). Logo, esta resenha terá como único fundamento o filme, sem esquecer que cada obra é única e individual, obras de arte distintas. Não há como não elogiar a coragem de Brian Percival, diretor mais conhecido por seu trabalho na TV inglesa, principalmente na maravilhosa série Downton Abbey. Apesar de já ter trabalhado no cinema antes, a adaptação do livro de Zusak é a primeira grande produção do cineasta, e o resultado não poderia ser mais promissor.
Contando com um elenco de grandes atores, Percival realiza um épico sensível e tocante, sem esquecer do fato de estar lidando com um tema tão caro à história mundial: a Segunda Guerra Mundial e suas consequências sentidas por cidadãos alemães pobres, trabalhadores e que não faziam ideia do que acontecia no fronte de batalha, exceto pelo que dizia a propaganda oficial.
Narrado pela Morte, o filme conta a história de Liesel (Sophie Nélisse, que já brilhou em O Que Traz Boas Novas), uma menina inteligente e perspicaz, filha de mãe comunista, que é adotada por um casal de alemães trabalhadores, Hans (Geoffrey Rush) e Rosa (Emily Watson), e durante a guerra encontra alívio ao criar o hábito de roubar livros da casa de um alto oficial do Partido Nazista, cuja biblioteca frequentou por um tempo. Durante a guerra, seus pais adotivos abrigam um judeu, Max (Ben Schnetzer), e Liesel acaba criando uma amizade com ele que duraria toda a vida.
São os pequenos elementos que tornam A Menina que Roubava Livros um filme tão singelo e bonito: a amizade de Liesel com Rudy (Nico Liersch), as longas horas de leitura em voz alta com o pai adotivo e também com Max, o dicionário de Liesel escrito a giz nas paredes do porão de casa, e a inesperada acolhida que Liesel recebe da esposa de um alto oficial do Partido Nazista. Mas da mesma maneira pequenos problemas no roteiro acabam prejudicando o filme. Há uma clara ausência de um clímax mais elaborado; tudo se resolve muito rapidamente e tem-se a impressão de ter havido muitos cortes e interferências do estúdio; a sobrevivência de Max ao final do filme é mal explicada; a presença da Morte como narrador poderia ser mais aproveitada; e algumas escolhas linguísticas são claramente voltadas para o público americano: chamar futebol de "soccer" na Alemanha, em um inglês com sotaque britânico, é um equívoco.
Apesar disso, o filme consegue emocionar e se destacar em meio a tantos outros filmes sobre a Segunda Guerra, ainda mais porque há poucos filmes não-alemães que mostram o cotidiano em uma cidade alemã durante a guerra. Sem contar que a trilha sonora tem a mão talentosíssima e premiada de John Williams, compositor mais conhecido por seu trabalho nos filmes de Steven Spielberg. Vale a pena conferir.

A Menina que Roubava Livros (2013) on IMDb

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