Robocop | 'Tropa de Elite' do futuro?

A expectativa era grande. Quem acompanhou as notícias sobre a produção de Robocop, desde o anúncio de José Padilha na direção até as entrevistas de divulgação, certamente criou as mais diversas expectativas sobre o filme, para o bem ou para o mal. A principal preocupação era com quanta liberdade Padilha teria para realizar o remake (ou "reimaginação") do clássico sci-fi dirigido por Paul Verhoeven em 1987, que já era extremamente violento e subversivo, e ainda trazia uma boa quantidade de humor negro no pacote.
O resultado final, apesar de algumas ressalvas, é positivo. O Robocop de 2014, 27 anos depois do filme original, é vibrante, intenso e traz algumas reflexões relevantes para o momento atual. Além disso, o que se mostra em cena é bem parecido com o que seria um filme de José Padilha. Há paralelos bem claros com os filmes mais conhecidos do cineasta brasileiro, os dois Tropa de Elite: como os policiais do BOPE, Alex Murphy (Joel Kinnaman, da série The Killing) vai aos poucos perdendo o que lhe resta de humanidade. Se em Tropa de Elite, Nascimento e os outros personagens passam por transformações profundas em seu senso de justiça e em seu tempo de reação, o Robocop de José Padilha também, exceto que tal mudança em sua personalidade é obra de alta tecnologia.
Durante as filmagens e à medida em que novas notícias sobre o roteiro eram divulgadas, pensava-se que Robocop traria questionamentos sobre o uso de drones americanos em solo estrangeiro. Mas o filme pouco discute a questão, preferindo abordar o problema de ter seres humanos modificados roboticamente para o cumprimento da lei e a manutenção da ordem.
O elenco está bem à vontade com seus personagens. Samuel L. Jackson como uma espécie de Datena gringo, é a própria personificação do estereótipo de apresentador conservador que anda em vigor em Hollywood. Seu personagem parece o Stephen de Django Livre, aquele negro mais preconceituoso e asqueroso que muitos brancos de seu tempo. Michael Keaton, Jay Baruchel e Jennifer Ehle, o núcleo da OCP, encarnam perfeitamente a visão de empresários obcecados pelo lucro a todo custo, e Gary Oldman como o "dr. Frankenstein" que cria o Robocop é o personagem mais interessante do filme. Quanto a Joel Kinnaman encarando seu primeiro protagonista do cinema, o ator parece confortável no papel que consagrou Peter Weller em 1987.
Mas Padilha peca em Robocop ao não criar uma cena de ação que realmente empolgue o público. O diretor tem um bom timing para tomadas corajosas e câmeras tremidas (como já fazia em Tropa de Elite), mas ainda falta aquele tique para elaborar sequências de ação espetaculares, como se espera em filmes do gênero. Abrir espaço para a reflexão e a discussão de questões geopolíticas importantes não significa abrir mão de momentos inesquecíveis e sensacionais.
No final das contas, José Padilha tem um ótimo começo em Hollywood. Que seja realmente isso, um começo. O futuro pode ser promissor.

RoboCop (2014) on IMDb

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