O Congresso Futurista | Ficção científica mistura filosofia e animação

Não é tarefa fácil assistir O Congresso Futurista (The Congress, Israel / Alemanha / Bélgica / Polônia / Luxemburgo / França, 2013), que o diretor Ari Folman (de Valsa Com Bashir) lançou com grande expectativa no ano passado, sem conseguir atendê-la. Trata-se de uma mistura bem intencionada de ficção científica, filosofia existencialista e drama humano, que fica aquém do que era esperado, ainda mais quando o trailer da produção foi divulgado e chamou grande atenção.
Com um elenco digno de nota, O Congresso Futurista mostra Robin Wright (de Forrest Gump e A Princesa Prometida) vivendo a si mesma, uma atriz em decadência que amarga más escolhas de papéis, em uma sequência de péssimos filmes e fracassos de bilheteria, que tem de seu estúdio uma proposta para um último contrato: ela será escaneada, juntamente com todas as expressões e emoções que é capaz de demonstrar, para que um novo personagem seu seja criado e possa ser utilizado em quaisquer filmes que o estúdio achar por bem fazer, incluindo as temíveis ficções científicas, que a atriz detesta. Seu agente (Harvey Keitel) a encoraja a assinar o contrato, e ela toma a decisão de fazê-lo, depois de constatar que a doença de seu filho, Aaron (Kodi Smit-McPhee, de A Estrada), o tornará cego e surdo em alguns anos.
Até o momento em que o corpo de Robin é escaneado, em uma cúpula futurista cheia de refletores e câmeras por todos os lados, o filme tem um fôlego e um apelo irresistível. A atuação de Robin Wright e Harvey Keitel, especialmente na cena do escaneamento, é irrepreensível, capaz de levar-nos às lágrimas. Toda a discussão metalinguística sobre a relevância do cinema como arte realmente importante é significativa e coerente. Mas aí vem a segunda metade do filme.
Vinte anos depois de ser escaneada e participar de uma série de ficção científica trash de grande sucesso, Robin é convidada ao tal "congresso futurista" que dá título ao filme. É um lugar virtual, onde todas as pessoas são personagens animados, que podem ser quem quiserem, de Jesus Cristo a Michael Jackson, até a própria Robin Wright dos filmes trash. Grande parte da humanidade resolveu fazer a transição para este universo paralelo, onde tudo é permitido e não há fome nem pobreza. A animação deste segundo trecho do filme é psicodélica e ultracolorida, embora lembre mais a série animada Mad, do canal Cartoon Network, o que acaba tirando toda a seriedade esperada por um filme assim. Além disso, o trecho animado, com tanto potencial para cativar a audiência, acaba sendo bem arrastado.
Mesmo assim, o israelense Ari Folman consegue terminar sua ficção científica filosófica com o mérito de suscitar uma reflexão sobre o futuro da humanidade. Mas O Congresso Futurista podia ser muito mais, se tivesse um roteiro mais hermético e claro, que não fosse tão entediante em seu segmento animado.

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