LiteraPop #5: A verdade sobre o caso Harry Quebert, de Joël Dicker

Sempre que um romance é incensado pela crítica e se torna sucesso de vendas, o olhar de quem é leitor inveterado se volta para este livro. Foi o que aconteceu comigo, em relação a A verdade sobre o caso Harry Quebert, do autor suíço Joël Dicker, que é um dos romances franceses mais vendidos da década, tendo sido premiado por toda a Europa. Lançado recentemente no Brasil pela editora Intrínseca, o livro é uma trama policial, mas também pretende ser uma história de amor e uma sátira ao universo editorial.
A história é narrada, em sua maior parte, por Marcus Goldman, um escritor que obteve sucesso logo em seu romance de estreia, fazendo com que assinasse um contrato de mais cinco livros com uma grande editora novaiorquina. O problema é que Goldman está acometido pelo mal dos escritores: o bloqueio criativo. Nada do que ele escreve vale qualquer nota, o que o faz duvidar de seu próprio talento para as letras. Na tentativa de renovar as forças e recuperar o dom de escrever, ele decide procurar seu antigo mentor, um escritor renomado há 30 anos e que foi seu professor na universidade. Seu nome é Harry Quebert. O mentor vive em Aurora, uma pequena cidade praiana em New Hampshire, e é lá que Marcus tentará resgatar o que perdeu. Mas o jovem é surpreendido quando fica sabendo que o corpo de uma adolescente é encontrado enterrado no jardim de Quebert. E mais: a adolescente, Nola Kellergan, fora dada como desaparecida há mais de 30 anos, e havia tido um caso de amor com o próprio Harry, quando este tinha cerca de 30 anos, e ela somente 15. Não é surpresa nenhuma quando Quebert é acusado de ter assassinado a garota e enterrrado-a em seu próprio jardim.
Colocado em pleno olho do furacão, Marcus resolve investigar por conta própria o caso, principalmente depois que seu amigo se declara inocente, afirmando ter amado aquela jovem.
A partir daí, Joël Dicker traça uma trama que ganha força especialmente quando narra a investigação empreendida por Goldman, nos momentos em que interroga todas as pessoas a fim de reconstituir todos os fatos que levaram à morte de Nola Kellergan, em 30 de agosto de 1975. Cada nova peça do quebra-cabeça é muito bem apresentada, sempre levando a novas pistas que, muitas vezes, acabam enganando o leitor.
Quando, todavia, Dicker investe em tentar criar uma história de amor dessas arrebatadoras, se perde terrivelmente, criando diálogos pouco críveis, repletos de exclamações seguidos de interrogações, frases que parecem ter sido retiradas de romances baratos estilo Harlequin, e uma pretensão tremendamente cansativa. O tal "livro-dentro-do-livro" na obra é tão denso quanto um tuíte da Dilma Bolada, fazendo com que seja impossível acreditar que o romance que Quebert escreveu sobre seu relacionamento com Nola pudesse ser realmente um sucesso incomparável, estudado nas universidades e adotado por todas as bibliotecas americanas.
Ainda assim, eu não abandonei a leitura. Segui em frente, e fui agraciado com reviravoltas impressionantes e inteligentes, frutos da habilidade que Dicker tem em criar tramas policiais que não devem em nada aos grandes clássicos do gênero. É aí que o autor tem seu ponto forte. Da mesma forma, ao retratar o mundo de pressões do mercado editorial - Goldman tem seu editor em sua cola, ameaçando processá-lo caso não entregue um novo livro dentro do prazo previsto - o autor consegue emplacar ótimos diálogos e ideias interessantes, enriquecendo a experiência de chegar ao fim de A verdade sobre o caso Harry Quebert.
No fim, o que fica é um bom romance policial, uma história de amor sem graça e alguns ótimos momentos dignos de uma boa tarde no sofá.

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