Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 | Filme de gente grande

Katniss Everdeen tomou os cinemas de assalto mais uma vez. A personagem, que é a heroína de ação mais importante do cinema desde que uma certa Tenente Ripley voou pela nave Nostromo em Alien - O 8º Passageiro (1979), tem a missão de manter a qualidade dos dois primeiros filmes, que foram muito além do que se espera de uma produção feita para o público adolescente.
Quem vence o preconceito que filmes como Crepúsculo ajudaram a criar, encontra em Jogos Vorazes uma franquia sólida e interessante que trata de temas profundos e complexos, e ainda apresenta uma protagonista ambígua como poucas no cinema atual, que só se torna heroína porque quer, no final das contas, salvar a própria pele e a pele de quem ama. Ao menos foi assim que Katniss (Jennifer Lawrence) se tornou o símbolo de uma rebelião que almeja derrubar o poder da Capital. Quando se ofereceu no lugar da irmã para participar da competição sangrenta mostrada no primeiro filme da série, a personagem não pretendia se tornar heroína. Só queria sobreviver. Depois dos eventos marcantes de Em Chamas, entretanto, o caminho foi pavimentado para que a personagem se transformasse em muito mais do que apenas uma vítima de um sistema violento e cruel representado pelo Presidente Snow (Donald Sutherland).
No começo de A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockinjay - Part 1, EUA, 2014), Katniss continua mostrando seu instinto de sobrevivência, mas acabou virando um ás na manga dos rebeldes sediados no Distrito 13, principalmente da Presidente Coin (Julianne Moore), que pretende usá-la para encorajar os outros distritos a ingressarem na luta contra a Capital. Para isso, Katniss é colocada no campo de batalha, seguida por câmeras o tempo todo, e suas incursões são transmitidas para todos os distritos. Não há mais jogos oficiais, mas a tevê continua sendo o principal instrumento de propaganda, embora de outra ideologia e outro sistema, um que deseja derrubar o Presidente Snow e tudo o que ele representa.
O fim de qualquer competição na série dá ao filme um tom mais sombrio e angustiante, mostrando os rebeldes do Distrito 13 escondidos em um mundo subterrâneo, sendo caçados constantemente e tentando angariar mais pessoas em sua luta. Além disso, o foco quase inteiramente na figura da protagonista contribui para forjar uma personagem muito mais madura e interessada na causa da liberdade. A cena em que Katniss visita um hospital improvisado lotado de feridos que dividem o espaço com centenas de cadáveres é simbólica: é quando ela finalmente desperta para a realidade cruel de um governo que despreza a humanidade.
A qualidade de A Esperança é enriquecida por seu elenco. Woody Harrelson, Elizabeth Banks e, principalmente, Philip Seymour Hoffman, são pequenos trunfos que o diretor Francis Lawrence tem nas mãos. Atores sensacionais, eles têm atuações dignas dos grandes filmes, e ainda são acompanhados de um elenco jovem competente. 
Mas quem brilha mesmo é Jennifer Lawrence. Vencedora de um Oscar, a atriz está cada vez mais à vontade com o peso de liderar um elenco tão talentoso, e mostra muita segurança nas cenas mais dramáticas da franquia até aqui.
Por se tratar de um filme incompleto, é preciso aguardar o lançamento da Parte 2 para analisar com mais precisão o final da série. Entretanto, pode-se adiantar sem medo de errar: quem se aventurar por esta história distópica e sombria, não irá se arrepender. 

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