Jogos Vorazes: A Esperança - O Final | Crítica

Se há um único fator que faz da franquia Jogos Vorazes uma parte importante da história do cinema, é o fato de ser uma série inicialmente feita para o público adolescente, mas que soube dialogar com todo tipo de gente, de todas as idades, sem subestimar a capacidade de raciocínio de ninguém. Ainda que Em Chamas, a segunda parte da trama seja superior a todos os outros filmes da saga, A Esperança - O Final (The Hunger Games: Mockinjay - Part 2, EUA, 2015) soube encerrar a história com competência e vigor, mesmo com a derrapada otimista dos últimos minutos.
A saga de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é dolorosa, sofrida e hesitante. A heroína relutante que protagoniza a série tem menos heroísmo e muito mais sentimento de culpa, o que a coloca como uma personagem diferente de outras heroínas e heróis que o cinema tem visto nos últimos 20 anos, com o surgimento do gênero "super-herói" e o retorno do subgênero oitentista "exército de um homem só". É reconfortante ver uma heroína que, meio por acidente, se torna um ícone para uma multidão de pessoas escravizadas por uma ditadura cruel e sanguinária.
Também é alentador observar uma mulher protagonista que não está nem aí para seus interesses amorosos, a ponto de trocar de parceiro a cada novo fotograma. Não, Katniss não é uma mocinha nos moldes dos antigos filmes de aventura e de ficção científica. Ela é forte e corajosa, sente culpa ao ver gente morrendo por acreditar nela e no que ela representa. É um ser humano de verdade, mesmo com aquelas habilidades com o arco no nível "Arqueiro-Verde-Encontra-Gavião-Arqueiro".
O Final é um filme melhor que sua Parte 1, mas ainda peca em algumas situações bastante prosaicas, aparentemente colocadas na edição final para agradar as fãs adolescentes carentes de romances desde o fim da franquia água-com-açúcar Crepúsculo: estou falando da cena patética em que Gale (Liam Hemsworth) e Peeta (Josh Hutcherson) conversam sobre quem deve ficar com a garota, não sem que Katniss ouça tudo. Mesmo em meio à guerra e à tensão presente em toda parte, os rapazes encontram espaço para debater assuntos do coração? Desnecessário e ridículo.
Ainda bem que o restante do filme mantém o clima de arena presente nos dois primeiros filmes. Embora desta vez não haja um jogo propriamente dito, os obstáculos criados pelos idealizadores para servirem como armadilha para os rebeldes na invasão da Capital são muito convincentes e até assustadores. Os bestantes, seres humanos desfigurados e desprovidos da luz do sol por anos a fio que se assemelham a monstros enlouquecidos, enviados para impedir o avanço do grupo de Katniss, são pavorosos (no bom sentido) e proporcionam as melhores sequências do filme.
Também o clímax, em que Katniss caminha para executar o Presidente Snow, é sombria e determinante para a colocação da personagem no panteão dos grandes heróis do cinema.
O saldo final, então, é positivo. Há perdas terríveis, vitórias em batalha que mais parecem derrotas, mas assim é a guerra. E Jogos Vorazes: A Esperança - O Final é assim: um bom exemplo de como se faz uma verdadeira ficção científica distópica no século 21.

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