Love | Série original da Netflix é realista e sensível na medida certa

Quem conhece os filmes de Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos, Bem-Vindo aos 40) sabe que o cineasta e roteirista não é um artista de respostas fáceis e finais previsíveis. Sabe também que seus filmes sempre trazem romantismo sem deixar de considerar seus personagens como simples seres humanos, cheios de falhas e camadas de personalidade incrivelmente complexas. Quando Apatow se uniu à Netflix para criar uma série - com Paul Rust e Lesley Arfin -, uma comédia romântica moderna, esperava-se que todas aquelas nuances e características presentes em seu trabalho no cinema pudessem ser ainda mais ampliadas na realidade sem censura do serviço de streaming mais famoso do mundo. A espera valeu a pena.
Love é divertida, engraçada, agridoce, sensível, tensa e repleta de subtextos e detalhes que podem passar despercebidos na primeira vez que se vê. É uma série sem amarras, que discute as relações humanas da maneira mais realista possível, cujos personagens são gente como a gente, nem tão feios nem tão bonitos, que riem, choram, têm toneladas de insegurança e carência e ainda estão aprendendo a arte de serem adultos, muitas vezes da pior possível.
Gus (Paul Rust) é um professor que trabalha como tutor do elenco juvenil de uma série teen, e vê seu namoro terminar - ou melhor, só percebe quando o relacionamento já acabou faz tempo. Mickey (Gillian Jacobs) é produtora em uma rádio que vive tocando relacionamentos estranhos, tóxicos e improdutivos que só servem para amplificar seus muitos vícios: drogas, álcool e sexo. O inesperado encontro entre Gus e Mickey só acontece ao final do primeiro episódio, que com muita competência apresenta o contexto das vidas de cada protagonista até finalmente jogar um de frente para o outro. Sendo uma temporada de 10 episódios, há tempo o suficiente para o desenvolvimento de cada camada de seus protagonistas, além de mostrar também coadjuvantes que poderiam até roubar a cena, não fosse o brilhantismo e a paixão com que os dois atores principais se entregam aos seus papéis.
Alguns dos altos e baixos de um relacionamento amoroso estão nesta primeira temporada, e quando tudo parece se encaminhar para o pior, a série consegue surpreender e deixar um gancho e tanto para a próxima temporada, que já está assegurada pela Netflix.
Love é uma experiência que deu certo. Há intensidade e verdade em cada cena, cada diálogo, cada olhar e até no modo de andar de todos os que estão em cena. O cenário em que tudo acontece, Los Angeles, é retratado como o ponto de encontro de pessoas solitárias, que necessitam fazer amigos para levar suas vidas e seus sonhos adiante, sempre tendo esperança de que tudo vai melhorar, ainda que suas vidas amorosas não sejam dignas de um filme.
A metalinguagem, aliás, é um dos pontos fortes do roteiro inventivo que está, na maioria dos episódios, nas mãos de Apatow e Rust. O ambiente de trabalho de Gus é mostrado sem nenhum glamour; estamos falando do set de filmagem de um seriado aparentemente famoso, mas tudo é visto em cena sem que o elenco e a equipe de produtores e roteiristas da série sejam retratados como gênios brilhantes, ou simplesmente tremendos cretinos desalmados e insensíveis: são pessoas, como cada um de nós.
A sinergia entre elenco e produção de Love é tão marcante que torna a série viciante: eu e minha esposa praticamente não fizemos mais nada até terminar os 10 episódios. As coisas que a Netflix faz com a gente! Mas quem disse que nós não gostamos?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

22 pessoas que se parecem com desenhos animados

Amazon Prime Video: vale a pena a assinatura?

Cobra Kai - Sem misericórdia, sequência de Karatê Kid é triunfo narrativo