Quase 18 (Crítica)

De tempos em tempos, aparece um filme capaz de falar sobre a adolescência sem fazer os adolescentes parecerem simplesmente uns bobões estúpidos sem nada na cabeça. Pensando assim, por alto, consigo me lembrar de As Vantagens de Ser Invisível, O Clube dos Cinco, A Mentira, Meninas Malvadas e Sociedade dos Poetas Mortos. Mas o cinema é generoso, logo há mais alguns, mas esse texto não é uma lista. Aqui, eu quero falar de Quase 18 (The Edge of Seventeen, EUA/China, 2016), que pode entrar em qualquer boa seleção de filmes sobre aquela idade que é muito mais do que um monte de espinhas na cara. 
Nadine (Hailee Steinfeld) está no segundo ano do Ensino Médio e se sente um peixe fora d'água, como se todos os outros jovens da sua idade fossem uns idiotas e só ela tivesse alguma coisa que preste na cabeça. Ela só tem uma amiga, Krista (Haley Lu Richardson), cuja amizade existe desde que as duas eram pequenas. Quando a melhor - e única - amiga começa a namorar seu irmão, o relacionamento entre elas sofre uma ruptura que pode durar para sempre.
Quase 18 é o filme de estreia da diretora Kelly Fremon Craig, que também assina o roteiro desse drama adolescente que consegue captar com maestria um bocado de coisas que se passam na mente dos jovens, sem jamais diminuir ou menosprezar esta idade "tão complicada e tão simples", citando uma frase de Nadine. A cineasta, afinal de contas, é ela mesma jovem, e consegue colocar na tela todas as angústias bem características desta fase da vida com grande sensibilidade. Seu texto é fluído e tem uma leveza extraordinária; cada personagem tem mais camadas do que aparenta e é possível circular pelas vidas deles com afeição e empatia.
Há cenas particularmente tocantes, nas quais a competência da diretora é bem sentida, como a cena em que Nadine é "resgatada" por seu professor de história e descobre que ele é um ser humano bem melhor do que ela imaginava. 
E não são apenas os personagens jovens que aparecem muito bem. Os adultos em cena também têm seus momentos. Estes são três: o já mencionado professor de história vivido por Woody Harrelson, a mãe de Nadine (Kyra Sedgwick) e o pai dela (Eric Keenleyside). Destes, apenas o pai não tem tempo de tela suficiente para que o conheçamos mais. Porém, tanto o professor como a mãe mostram muito potencial, embora não sejam o foco da história.
Esta talvez seja uma falha de Quase 18. Os personagens adultos não têm muita coisa a fazer, a não ser enlouquecer com as neuras de Nadine e seu desespero diante dos dilemas da adolescência. Mesmo assim, Kyra Sedgwick tem um conflito bem interessante consigo mesma e com os filhos, capaz de lhe render pelo menos uma boa cena.
Eu não podia terminar este texto sem falar da protagonista, Hailee Steinfeld. Ela está brilhante. A atriz consegue fazer de Nadine uma jovem tridimensional e ao mesmo surreal, colocando em suas expressões toda aquela mania que adolescente tem de achar que qualquer problema é o fim do mundo. Você sabe, aquele revirar de olhos, as lágrimas fáceis perante as dificuldades, os gritinhos histéricos e a sensação de não pertencer a lugar nenhum. Tudo isso está lá, na atuação desta jovem atriz que já demonstrava imenso talento em sua estreia, em Bravura Indômita.
É isso. Quase 18 é um filme jovem raro, que não subestima a inteligência do público jovem ao mesmo tempo em que apresenta personagens multidimensionais palpáveis e incrivelmente interessantes.

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